Letras UFABC

21/04/2011

Rascunho 1 – por Ishikawa

RASCUNHO 1

Por Ishikawa – Do blog …rascunhos… (clique para ir até o blog)

Abrigam-se do frio

Os solitários em sua etnia.

As chuvas de medos derradeiros,

Constroem mortes,

Tecem rios.

.

Sentimento medíocre faz companhia?

Ou medíocre homem se faz companheiro?

Se existisse algo verdadeiro

Tudo seria diferente. Seria.

.

Meus filhos não seriam da desgraça minha,

Os herdeiros.

E nem eu se pudesse,

Os faria.

.

Fixação sedenta de futuro

Pisoteia os sonhos de criança.

E acabam-me as forças com que aturo

A frialidade de tal ignorância.

Letras – UFABC

09/09/2010

“Hoje eu não tô pra você” – por Pepita

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HOJE EU NÃO TÔ PRA VOCÊ

Por Pepita – Do Blog PEPITA (clique para ir ao blog)

Você nunca vai me perceber de verdade.

Só pensa em você,

Seus problemas, suas glórias…

Pare de me contar histórias!

Hoje não quero te ver.

.

Seus papos sérios, a racionalidade.

Não sou assim. Não quero ser!

Fala-me tanto do seu mundo…

Se não quer saber de mim,

Por que quer que eu saiba de você?

.

Você está sendo egoísta.

Acorde, pare com isso,

Não faça esse solo ruir…

E cale-se, agora vou falar de mim,

Hoje não quero te ouvir.

.

Não vou reprimir meus sentimentos,

Minha vontade de ser querida e ouvida.

Saiba que eu também penso,

Tenho cérebro, boca, voz,

E uma vontade de falar desmedida.

.

Hoje eu quero mais.

Se não pode me dar mais,

Então me deixe em paz!

Pare de me aborrecer.

.

Caia fora!

Se não quer me entender,

Vá embora!

Hoje eu não tô pra você.

Letras – UFABC

06/09/2010

“Ela tem 18 anos” – por Jeniffer Frossard

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ELA TEM 18 ANOS

Por Jeniffer Frossard – Do Blog PSICOSE (clique para ir ao blog)

Ela tem 18 anos
E como as garotas de 18 supostamente fazem
ela faz também
vai a boates noturnas
bebe, desmaia
não lembra o que aconteceu na noite anterior
a pista, é a saia rasgada
e a calcinha desaparecida.

Ela tem 18
e como as garotas de 18
anda pelas ruas de são paulo
anda pela augusta, e se vende
como uma garota de 18 supostamente deve fazer.

Ela tem 18 anos
e foi estuprada
foi morta e deixada numa esquina
um corvo faminto que espreita sua morte
grita do inferno ‘nunca mais’
morreu enfim.

Letras – UFABC

04/09/2010

“Coração” – por Esaú

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CORAÇÃO

Por Esaú – Do Blog HEDONISMOS PÚTRIDO (clique para ir ao blog)

Nada existe.

Nunca nada existe,

pois sou triste,

e na tristeza,

não há certeza.


A única certeza é a morte.

Certeza sem hora,

sem solução.

A única certeza é a derrota,

o fim, a desilusão.

Letras – UFABC

03/09/2010

Rascunho 36 – por Ishikawa

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RASCUNHO 36

Por Ishikawa – Do Blog: …rascunhos… (clique para ir até o blog)

Por tanto tempo estive só

Acompanhada e só

Por tanto tempo

Sem pensar

Sem ter o que querer

esquecer

Por quanto tempo

Amante e só

Casual e só

Era tudo e era só…

Letras – UFABC

01/09/2010

“Analisando Meu Atual Catalisador de Burrice: Jay-Z Arruda e Outras Constatações” – por Bruna Scarpioni

ANALISANDO MEU ATUAL CATALISADOR DE BURRICE: JAY-Z ARRUDA E OUTRAS CONSTATAÇÕES

Por Bruna Scarpioni em 18/06/2010 – do Blog:   LIBERDADE (clique para ir até o blog)

Jay-Z Arruda após ter tentado seduzir os alunos da Universidade Federal do ABC. Infelizmente, era dia de prova do Pedro Mercadante, o cara do LHC


Eu passo um tempo lendo o Twitter da Geisy Arruda, acredita? Pois é. A Geisy me surpreende quando fala. Bom, ela não é bonita. Não é bonita porque é sem graça. Sem um pingo de graça. O problema não é ser gordinha nem ter o cabelo suspeito nem nada. É ser absolutamente sem graça, ter um conjunto sem graça e uma personalidade mais sem graça ainda. Mas, pra quem saiu da Uniban, morava em Dyadema (e não venha com “sua preconceituosa”. Eu sou de Mauá. Também sou da quebrada), trabalhava num mercadinho por 400 pila e blás, ela surpreende porque fala corretamente e tem um mínimo de criatividade a articulação. Fazia inglês e informática enquanto estudava na… naquilo lá. Solta uns ‘pra mim me articular melhor’ que são absolutamente perdoáveis dadas as circunstâncias. E acho absolutamente natural que ela lucre com tudo o que o machismo lhe causou. Nas condições dela, é o que qualquer um faria, e negar isso é moralismo de boteco. É a história de Bebel. De Bebel Que a Cidade Comeu. E vida longa a Ignácio de Loyola Brandão. É bom mesmo que ela ganhe grana. Quem sabe os elementos que chamam a si mesmos de estudantes não resolvem estudar ao invés de perseguir tentativas de gostosa? E, quem sabe, não se arrependem do que fizeram? Porque, afinal, é por causa deles que a gente tem que aguentar a Geisy. A Jay-Z Arruda.


Interessante ver como a sociedade odeia essa menina. É interessante voltar na história e perceber como a sociedade sempre produziu loiras de apelo sexual (Geisy? Eu sei. Calma, eu explico) pra usar de Anti-Cristo. Jayne Mansfield (‘o busto’ que falava seis idiomas), Marilyn Monroe (excelente comediante, aliás. E excelente atriz. Esnobada pelos críticos e pela Academia por tem encarnado o personagem em sua vida, ainda que quase contra a própria vontade. Quase.), Brigitte Bardot (que seria uma atriz séria com facilidade, se quisesse. Mas nããããão. Melhor trocar de amante freneticamente e se dedicar a maldizer o cinema dia após dia. Precisam ver o ódio de minha Brizzy pelo cinema), Madonna (a primeira que sabia o que estava fazendo) e seguem-se outras, dentre as deusas que citei, e mais algumas fast-food de ódio, como Jay-Z Arruda.


Todas ganharam dinheiro, eram morenas e foram massacradas pela mídia e pelas mulheres.


Madonna e Jay-Z nunca despertaram o desejo masculino. Madonna não é um ícone pra machões. Por mais “jovem” que seja o corpo, ela é ativa demais. Ativa psicologicamente. É ativa demais, inteligente demais, forte demais, articulada demais e isso transparece nas letras, nas melodias, no sucesso dos negócios. Machão não gosta disso. E Geisy…bom, Geisy é personagem de Superpop. Força algo que ela sabe que não é. Força uma sensualidade que não existe. Precisa da grana (acho razoável), e precisa (o que me pareceu, à primeira vista uma necessidade adolescente, mas que revela ser Geisy uma vítima do biótipo e do sucesso feminino mostrado nas revistas) acreditar na sua “beleza”, encarnar, na marra, a gostosa, uma gostosa que todo mundo sabe que não existe. Afinal, ser gostosa exige muito. Cêis já viram a tal da Mulher Melancia falando? A maneira como a menina se impõe e como transmite uma segurança que cativa um homem? Segurança essa que vem de uma enorme confiança na atração que exerce. Coisa que, nem precisa ser psicólogo, sabemos que Geisy não tem. Nem atração, nem confiança na atração. Ignorada pelos homens, apesar do marketing nesse sentido, e odiada, inútil e rancorosamente odiada pelas mulheres.


Vejo montes de meninas jovens encarnando freiras medievais (daquelas que nem tomavam banho pra não pecar) quando a coitada da Geisy aparece. A Geisy, Jay-Z, não tem porra de sex appeal, sensualidade nenhuma. Mas parece uma heresia que uma gordinha de Dyadema esteja vivendo seus momentos de princesa do Netinho. Irritar-se com a Jay-Z porque ela chama atenção masculina, porque ela explora o corpo, porque ela não tem nada mais a oferecer, porque isso e aquilo e por outras frases de coroa mal-amada não cola, né? Geisy, repito, não chama atenção dos homens. Nem tem corpo pra explorar. Mas as tiazonas de 20 anos indignadas se justificam com esses argumentos.
Eu vejo uma ranhetice danada, uma misoginia danada e uma inveja danada.


Imagine que Jay-Z Arruda fosse uma menininha de sexualidade aparentemente indefesa, uma Miley Cyrus barata e tupiniquin, uma ex-BBB, uma menininha loirinha que foi Miss Colégio/Escola/Primário/CursodeInglês a vida toda. Uma menininha limpinha de classe média. Estudadinha na Metô. Uma menininha digna de merecer solidariedade diante de uma perseguição sexual que poderia ter terminado em estupro. Uma menininha passivinha, limpinha de papai e mamãezinhos, “decente”, “direita”. Uma moça tem que ser “direita” pra merecer a proteção da sociedade. Não pode “provocar”. Se provocar, que arque com as consequências: O homem não é obrigado a se controlar.


Mas é uma menina gordinha, de Dyadema, com um nome cafona e sem graça pra cacete que sai na mídia. Se Geisy não parecesse/fosse o que se chama de ‘mina do povo’, qual seria a reação das mocinhas limpinhas decentinhas? A perseguição a ela seria a mesma?


E não pára aí: Impressionante ver como as mulheres jovens do século XXI uniram-se pra demonizá-la. Pra dizer que aquilo não é roupa pra se andar na faculdade, e que ela deu razão pra tanto escândalo, que a faculdade estava certa em expulsá-la. É aterrorizante.


Em velório, a gente não vai de minissaia e camiseta do Mickey. Advogado não vai ao tribunal de Havaianas no pé. E nossos caros senadores não usam os macacões laranja que lhes cairiam perfeitamente. Existem códigos sociais de vestuário que devem ser seguidos para que a vida transcorra tranquilamente. Mas são códigos. Você usa código Morse pra escrever? Não. Por quê? Porque não quer. Se quiser ir de camisa do Mickey no velório, pode ir. Poder, pode. Não é recomendado, mas o que chamam de Estado de Direito permite que você se vista como quiser e vá aonde quiser vestida assim. Ninguém tem o direito de interferir nisso, a menos que haja crianças perto ou que você vá a um templo religioso. E, entrando com trajes sumários num templo religioso, o sacerdote vai te convidar educadamente a se retirar. Você não vai sofrer violência alguma pelo que veste.


Não foi o que aconteceu. Um vestido que, só porque “sobe”, mostra exageradamente as coxas, chama a atenção dos homens, é motivo de violência moral e ameaça. Geisy podia até querer atenção. Poderia até estar conseguindo. Mas isso justifica? Justifica coação, assédio, violência? É esse o país em que vivo? País que condena mulheres por terem corpos de mulheres. Corpo que cometeu a asneira de ser atraente pros homens, então não pode ser mostrado, porque os homens não tem a obrigação de se controlar. A responsabilidade por sua segurança, “reputação” ou sei lá que porra de termo os moralistas usam, é toda da mulher. As instituições, a “moral”, os códigos de conduta e tudo mais não asseguram o menor respeito à mulher. Por quê? Porque homem é, acima de tudo, um ser humano. Uma mulher, não.

Uma mulher é uma mulher em qualquer circunstância. Uma fêmea, por mais que disfarce. E é bom que disfarce direito, porque, senão, está sujeita a tudo. Geisy tinha o direito de ir vestida como quisesse. Direito. Estado de Direito, caríssimos. Se ela queria atenção, fama, popularidade, não interessa. É direito dela vestir o trapo que quiser. É direito de qualquer um, inclusive de seus perseguidores. É direito meu. E se um dia perseguiram uma menina por um vestido, violaram seu direito por um vestido, por que isso não poderia acontecer comigo amanhã? Ou com você? Por que seria diferente? Talvez, até por uma mera calça jeans? Um casaco listrado? Ou vocês conseguem ver limite pra ignorância. Hoje, foi a menininha encardida de Dyadema. E amanhã? E qual o critério que escolhe as vítimas? É bom pensar nisso, ameega.


E essa Brigada Pela Moral e Bons Costumes das Mulheres de Respeito que Geisy movimentou?  Mulheres armado-se de sua moralidade, de sua ‘intelectualidade’, de seu ódio de ser mulher e da mulher e vão massacrar Geisy Arruda, Madonna, Brigitte Bardot, Marilyn Monroe, e mais outras Bebéus. Bebéus Que a Cidade Comeu E Come. Come, mastiga e vomita, pra pedir mais uma, e mais uma e mais outra, sem ficar satisfeita nunca. E pede mais porque ódio não tem fundo, a menos que haja reflexão e boa vontade. Não há. A sociedade/cidade precisa dessas “vagabundas” pra vomitar todo o que ainda sente pela Eva. Eva que sou eu e você, humano dotado de vagina que lê este post. Ódio reprimido pelas conquistas de mulheres comuns que não desistem, e que se destacam onde os machões perdem espaço. Que estão por aí fazendo e acontecendo. Que impõem um respeito que emana dos seres humanos que são e não do quão cobertas estão. Que se impõem com inteligência, cultura, esforço, coragem. E como assém? Vai ficar assém?


Não.


Vamos produzir símbolos. Símbolos da Eva. Vamos fabricá-los. E depois vamos demonizá-los. Pra que fique bem claro pra todas as mocinhas como elas tem que se comportar: Não importa o quão brilhante você pode ser, vai ser sempre submetida por um XY. Um homem. Vai ser subjugada no seu trabalho, ganhando menos e trabalhando e estudando mais, sendo assediada como se, por ser mulher, não importa o ambiente em que está, serve pra satisfazer desejos sexuais. Na sua diversão, porque não pode falar alto, não pode pensar isso nem dizer aquilo, porque ‘pega mal’. Não pode sentar assim, e precisa saber jogar o cabelo. Vai ser subjugada no teu corpo, se moldando aos ditames do momento, vendidos como a chave da beleza. Sem que você tenha nem mesmo um conceito de beleza. Sem permitir aos garotos jovens formular um conceito de e lavar-lhes a sexualidade ditando o que eles devem querer. Vai ser subjugada no teu sexo, moldado na posição certa pra ele, na bunda certa pra ele, mas “com classe”, porque homem não gosta que a namorada seja “uma vagabunda” na cama. Tudo pra ele. Pra causar um orgasmo que não existe. E pra se condenar à frigidez. Vai ser subjugada pela tua família, pela tua religião (que, na maioria das vezes, não é tua), pelos contos de fada, pelo teu macho (que não é homem. Frise-se), por te ensinarem que um dia ELE vai aparecer e te salvar. Sente e espere. Faça cara de coitadinha ou de safadinha porque também pega bem.


Porque não importa quão brilhantes artistas (com exceção da Jay-Z, tadinha) essas mulheres tenham sido, quanto dinheiro tenham feito, quanta gente tenham desafiado (“Se o Papa quer me ver, ele que venha ao meu show”), quantas consciências tenham expandido ou inspirado com suas próprias vidas, nós sempre as demonizamos e circundamos a discussão de seus símbolos ao “fato” de elas serem um bando de “vagabundas sem-vergonha”. E as mocinhas de bem crescem acreditando que elas são apenas isso. E veem o que acontece com mocinhas que se comportam mal: Solidão, suicídio, “má fama”. Deixem claro que elas só chegaram onde chegaram porque pularam de cama em cama, afinal, o mundo é dos homens. Reduzam-nas. Omitam as dificuldades enormes que as “vagabundas” atravessaram pra serem quem foram, omitam sua coragem, suas palavras, os seus livros preferidos, seus grandes trabalhos. Assim a gente seguirá criando mitos femininos, que tem que ser fortes e inteligentes pra alcançarem esse posto, mas também tem que ser imediatamente aniquilados assim que prontos. Pra que sigam-se de um mito mais fraco. E mais fraco. Até que não reste nada às meninas, a não ser Jay-Z Arruda.


E cria-se esse exército de meninas absolutamente sem graça, como Geisy, e um outro exército de mulheres que odeiam ser mulher, odeiam a mulher e encontram refúgio nesse moralismo patriarcal que aprisiona a elas mesmas.
Precisa nem ter mediunidade (como a que eu tenho) pra se assustar com o futuro.

Letras – UFABC

31/08/2010

“Os olhos que brilham e os cegos não vêem” – por Regio Santo

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OS OLHOS QUE BRILHAM E OS CEGOS NÃO VÊEM

Por Regio Santo – Do Blog: Seguindo com o Mar (clique para ir até o blog)

Suas lágrimas são para mim

Navalha

Pois cortam a carne

E cortam a alma

E eu sangro sem poder

Me costurar.


Letras – UFABC

29/08/2010

“Eu versus Eu mesmo” – por Bernardo Mendes

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EU VERSUS EU MESMO

Por Bernardo Mendes – Do blog: BernardoMendes’s Blog


Dizia-se de Bernardo que podia convencer os outros de muitas coisas e a si mesmo de qualquer coisa. Em oposição, Bernardo podia persuadir os outros, mas era impotente com relação a si mesmo.

Bernardo tinha certeza de que Bernardo não era santo, mas Bernardo não tinha certeza que Bernardo não era o Diabo.

Bernardo, o doutrinário, orgulhava-se de ser oportunista; Já Bernardo, o oportunista, já não queria ser doutrinário.

Até que Bernardo raciocinava bem. Por outro lado, Bernardo, que acreditava raciocinar bem, só agia com a paixão.

Bernardo tentara levar a vida, seguir em frente. Mas Bernardo sempre o atrapalhara, lembrando-o das angústias e dos frios acenos.

Como se os dois não fossem a mesma pessoa…


Letras – UFABC

22/08/2010

“O Tango” – por Bruno Wicher

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O TANGO

Por Bruno, o Vento  – Do blog: Nix, Noites primordiais (clique para ir até o blog)


A mulher se aproxima de um homem, seus olhos e seu caminhar mostram seu intuito, seu objetivo. Ele olha para ela, ela olha para ele. Eles se tocam, ela toca-lhe o braço, ele toca-lhe o rosto. Sentam-se numa mesa num canto do bar. Ele pede um uísque com gelo, ela bebe uma taça de vinho. Discutem sobre a vida e seus dia-a-dias. Não há mais bebida nos copos. Pedem uma outra rodada. Ele decide acompanhá-la e pede também uma taça de vinho. Não gosta de vinho. Ela também não, mas dá um certo status beber vinho, é coisa de madame e de executivo. Ele sussurra no ouvido dela. Ela se afasta um pouco e abre um sorriso. Decidem ir para outro lugar. Ele paga a conta. Eles saem do bar, ele com a mão na cintura dela. Estava tudo acertado. O preço ficara combinado em oitenta reais.

Letras – UFABC

30/03/2010

Fantasmas – por Eduardo Pina

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No 4º Encontro, pudemos também ler um conto de Eduardo Pina: Fantasmas.

Eduardo

Leia na íntegra.

Fantasmas

por Eduardo Pina

A cada cinco passos (ou menos), ela abria a pequena bolsa pendurada em seu braço direito e, com os dedos bem magros e ossudos, pegava o batom vermelho, abria a boca ficando muito, mas muito parecida com aquela pintura de Edvard Munch, “O Grito”, e retocava a maquiagem. Após finalizar o trabalho, calmamente tampava o batom, abria novamente a bolsa e guardava-o, para dar mais cinco passos e recomeçar o ritual.

Poucas pessoas ao seu redor pareciam notar.

Eventualmente, um observador bem atento que desse de cara com tal criatura, perceberia que não era apenas o batom que era incessantemente retocado. Seu rosto era quase o de um velho palhaço, branco, cheio de rugas e todo o tipo de maquiagem que um artista de circo tem direito. Ao abrir a boca formando um grande O, a cena era cômica se não trágica (ou vice-versa). Alguém que batesse os olhos e os desviasse em menos de dois segundos, certamente, daria risada, passando reto e esquecendo-se da visão em menos de cinco minutos. Por outro lado, o riso daquele que a observasse por alguns segundos mais, morreria tão instantaneamente quanto aparecera. Mas a visão seria, igualmente, esquecida em cinco minutos.

Mais cinco passos e os dedos ossudos puxam novamente a bolsa, abrindo o zíper e retirando o batom já praticamente todo gasto. As pernas da mulher tinham doido até algumas esquinas atrás, mas agora pararam. O mesmo acontecera com a fome; chega uma hora que, de tanta, você não a sente mais. Ao inferno com a fome! Afinal de contas, ela não precisava mais comer, precisava?

De que adiantaria alimentar aquele corpo que não passava de um saco enrugado de ossos e coberto de maquiagem? Fazia tanto tempo que ela não se comunicava com outra pessoa que, se questionada sobre, diria que o Alzheimer a impedia de responder. A mesma resposta seria utilizada em inúmeras outras situações, tais como: onde a senhora vive? De onde vem? O que faz por aqui? Precisa de ajuda? Mas, mesmo tendo todas as respostas preparadas, foi surpreendida pela falta de atenção por parte das pessoas, nunca sendo parada por ninguém nem questionada sobre nada. Ela apenas andava, retocava a maquiagem, andava, retocava a maquiagem…

E retocava a maquiagem para que? Bom, neste caso, o Alzheimer realmente a impediria de responder, de modo que ela sempre repetia a ação na tentativa frustrante de se lembrar do porque de estar vagando por aquelas ruas com a cara de um palhaço. Tudo estava tão confuso dentro de sua cabeça que, as vezes, ela sentia uma vontade quase que incontrolável de erguer as mãos à cabeça e gritar. Mas uma senhora de respeito jamais faria uma coisa dessas no meio da rua. Vozes de homens, mulheres e crianças, pelo menos uma para cada tipo, sussurravam em seus ouvidos coisas que ela fingia não entender. Só sabia que precisava chegar ao lugar onde ela precisava chegar, mas não podia. Estava perdida.

Disfarçadamente, ela olhava as casas e prédios ao redor tentando recuperar em sua mente memórias de já ter estado ali antes, não encontrando nenhuma. As vozes também pareciam não colaborar, especialmente aquela criança chata que corria logo atrás de suas pernas. Sempre odiou crianças, evitando ter filhos só para ter que evitar o desgaste de ouvi-los chorar e ter de amamentá-los.

As vezes tinha a impressão de que a Criança se cansava e desaparecia, mas era tão persistente que, pelo menos uma vez a cada quarteirão voltava para atormentá-la. Ela jamais olhava para trás para dar uma boa olhada na criatura, afinal de contas, se, apenas hipoteticamente falando, não houvesse criança alguma em seu encalço, não queria passar por louca no meio da rua. Ao invés de olhar, parava para retocar a maquiagem.

Foi quando o Homem voltou a estabelecer contato pela terceira vez desde que sua “jornada” começara. A voz grossa de homem próximo à meia idade deixava-a ligeiramente excitada e isso era motivo para mais um retoque ser feito, dois aliás, quantos fossem necessários. Mas, assim como nas vezes anteriores, o Homem não falava nada com nada, indo embora logo em seguida. Ela se recusava a olhar para trás para não deixar que ele descobrisse o quão interessada nele ela estava.

Ao virar uma esquina não muito longe dali, a pior voz de todas veio, a voz da Mulher. Dessa vez, não era apenas uma voz, mas era carne e osso também, ficando não atrás, mas parada exatamente a sua frente. Era sua filha. Pelo menos, era o que seria sua filha caso o aborto não tivesse sido feito há muitos anos.

Não tinha certeza absoluta que aquele ser que aparecia diante de si era, de fato, sua filha abortada, mas só podia ser. Talvez fosse uma intuição quase-materna. Via a jovem há alguns anos, mas as visões pareciam tornar-se cada vez mais freqüentes, especialmente quando saia pelas ruas rumo a lugar nenhum e maquiando-se loucamente. A primeira vez foi após o acidente de carro onde seu marido e sua mãe morreram. Eles estavam dirigindo pela estrada quando um caminhão desgovernado, cujo motorista estava ou bêbado ou dormindo, atravessou a estrada pegando-os em cheio. Os dois morreram na hora, enquanto que ela ficou em coma por poucas horas. Quando acordou, sua primeira visão foi de uma criança, uma menina, parada ao lado da sua cama, com uma expressão no rosto que podia tanto ser de satisfação quando de tristeza. Comentou com as enfermeiras quem era aquela criança e como deixaram que entrasse e ficasse parada ao lado de sua cama, podendo feri-la e desligar seus equipamentos, etc, mas as enfermeiras afirmaram não ter deixado entrar criança alguma na UTI. Após este incidente, nunca mais comentou sobre a criança para ninguém, apesar de vê-la sempre.

E agora, ali estava a criança crescida, com a mesma expressão nos olhos de tantos e tantos anos atrás. Jamais dissera uma palavra à sua mãe. Hoje pronunciou a primeira: você. Fingindo parar para retocar o batom, que agora já havia acabado sendo apenas um bastão metálico que sujava seus lábios ainda mais, a velha olhou profundamente para aquele ser a sua frente. Nem sob tortura pronunciaria alguma palavra, tinha certeza de que a visão era apenas sua e não queria passar por louca no meio da rua. Continuou andando, desviando-se da jovem ao passar por ela.

Ela ouve: eu vim para ajudar.

Dar ouvidos a uma brincadeira de mau gosto causada pelo seu cérebro seria como assinar seu certificado de loucura e mostrá-lo em rede nacional. Continuou andando, mas não por muito tempo.

Ao levar a mão à bolsa, percebeu que o braço esquerdo doía e não respondia aos comandos como antes. Mal teve tempo para olhar para ele quando uma profunda dor em seu coração irradiou por todo o seu corpo fazendo-a cair no chão, esparramada, como o Homem Vitruviano de da Vinci, exceto pelo circulo ao seu redor.

Conseguiu erguer o braço direito, segurando a barra da calça de um homem de terno e gravata que passava a centímetros de sua cabeça, mas as pernas se movimentavam rápido e seus dedos não tinham mais forças. Homens, mulheres e crianças passavam ao seu redor, desviando-se de seu corpo estendido e indo embora, poucas pareciam notar a mulher com o rosto sujo de maquiagem que morria de um infarto fulminante ali no meio da rua.

LETRAS – UFABC

Barbas brancas, orelhas compridas – por Ana Carolina B. Silva

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No 4º Encontro, pudemos também ler um conto de Ana Carolina B. Silva:  Barbas brancas, orelhas compridas.

Ana Carolina

Leia na íntegra.

BARBAS BRANCAS, ORELHAS COMPRIDAS

Por Ana Carolina Barbosa Silva

“Querido Papai Noel, muito obrigado pela escada que o senhor me mandou no Natal passado! Só não precisava tê-la realmente colocado dentro da minha meia, que por acaso eu havia acabado de comprar… Nesse ano, assim como nos outros, eu fiz muitas coisas boas: não joguei lixo nas ruas, participei ativamente como voluntário de uma organização que cuida de iguanas em extinção, além de não ter comido em restaurantes do tipo fast-food nem sequer uma vez. Espero que o senhor e Mamãe Noel tenham tido um ano feliz, e adoraria ganhar uma escada maior neste Natal, já que o meu pé de feijão cresceu consideravelmente nos últimos meses. Um ótimo final de ano para vocês!

Atenciosamente, João.

PS: Têm tido notícias dos Três Porquinhos? Da última vez que os vi, eles estavam numa conferência da ONU, protestando contra os frigoríficos de carne suína e querendo a proibição da preparação da Feijoada em todo o mundo. Bem, se o senhor os vir, diga que mandei lembranças.”

Papai Noel estava, com ajuda dos duendes, trabalhando a todo vapor a fim de conseguir ler as diversas cartas e providenciar os presentes de Natal das crianças de todo o mundo. Não era um trabalho fácil, muitas crianças indecisas mandavam listas enormes que continham itens que variavam de bonecas e carrinhos a celulares e computadores. Sua fábrica de presentes já não estava mais dando conta de tanta produção, pois, principalmente os países pobres, não controlam a natalidade, e com quatorze anos de idade muitas meninas já são mães; em contrapartida a isso, na África, muitas crianças nem chegavam aos quatorze anos de idade, pois morriam de fome, ou desnutrição, ou AIDS, ou todos juntos. Ele estava até pensando em se candidatar à presidência do Brasil, assim talvez conseguisse diminuir a natalidade, e a corrupção também, prometendo cassar o mandato daqueles que não se comportassem bem durante todo o ano; mas ele não teria tempo para as crianças, que comparadas aos corruptos, davam bem menos trabalho, então desistiu da idéia de se tornar presidente.

“Papai Noel fofinho, muito obrigada pelo xampu anti-queda que o senhor me mandou no último Natal! Não sei o que seria de mim se minhas tranças continuassem a se desfazer daquele jeito. Espero que o senhor tenha recebido todos os relatórios das minhas atividades durante esse ano, o senhor sabe, não tenho muito o que fazer o dia inteiro trancada nessa torre, pensei que os relatórios poderiam lhes ser úteis, poupando o seu trabalho de investigação quase secreta sobre minha vida. Como você pôde constatar, eu realizei ótimas ações esse ano: não dormi com os cabelos molhados; não atirei pedras em pombos; não tomei banho todos os dias, economizando a água do planeta; eu também não fiz chamadas de longa distância ao telefone, enfraquecendo o poder das companhias telefônicas. Não fiz mais coisas porque aquela bruxa não me deixa sair dessa masmorra. Esse ano eu gostaria muito de ganhar um binóculo, assim poderia observar um pouco mais do mundo daqui de cima. Quando quiser aparecer por aqui um dia desses, é só gritar que eu te jogo as minhas tranças.

Um beijo na pontinha do nariz, Rapunzel. ”

Na sala de estar, ornada por um televisor de muitas polegadas, ar condicionado e quadros dos mais diversos pintores e épocas, Papai Noel tomava o chá da tarde, servido por sua querida e velha esposa.

— Rou, rou, rou! Estou que não agüento mais minhas pernas – lastimou Papai Noel. – Esse maldito reumatismo está me consumindo aos poucos…

— Eu já te disse para fazer uma visita ao Mágico de Oz, ele não te negará uma ajudinha. Te falei que semana passada eu fui lá para dar uma esticada no rosto? Menino, o moço é mais danado que o Ivo Pitangui! – disse Mamãe Noel com notável entusiasmo.

— Bem que eu reparei que você não está conseguindo sorrir direito… – cochichou o Papai Noel sem que a Mamãe Noel ouvisse.

— Meu bem, hoje chegou mais um monte de cartas. Eu sei que não devia, mas tomei a liberdade de abrir algumas, é que eu vi os nomes e não me contive. A Chapeuzinho Vermelho disse que estava morrendo de saudades e que agora que sua Vovozinha havia se mudado para longe, ela queria ganhar uma bicicleta, já que ainda não tem idade para dirigir.

Papai Noel não estava mais ouvindo o que a Mamãe Noel lhe dizia. Estava preocupado com a produção da fábrica. Tantos brinquedos diferentes, tão pouco tempo para serem fabricados, afinal, o Natal já estava por vir. Naquele momento sentiu inveja do Coelhinho da Páscoa. “Uma produção em massa de ovos de chocolate deve ser menos trabalhoso de manter”. Eis que lhe surgiu uma idéia.

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Enquanto isso, na toca do Coelhinho da Páscoa, um rock antigo tocava na rádio:

“Era um coelhinho de dentinhos tão branquinhos, bem pequeninho…”

— Desliga esse rádio! Não se pode ter um minuto de silêncio nessa casa! Eu vou desaparecer nesse mundo, viver numa comunidade Hare Krishna na Índia. Está tudo errado! Só eu não ganho na loteria, só eu tenho que dar sinal para o ônibus parar, só eu não pago meia no cinema! Tô cansado! – gritou o Coelhinho da Páscoa com sua esposa, enquanto organizava o estoque de ovos de chocolate branco.

— Calma, meu bem! Já desliguei, mas não precisa ficar nervoso por uma simples musiquinha!

— Se fosse só esse o problema… Eu estou cansado de tudo! Não agüento mais viver nessa vida. Chocolate, chocolate, chocolate, chocolate! Eu estou ficando louco!

A Senhora Coelhinho da Páscoa compadeceu-se do marido e foi tentar arrumar uma solução para o problema que o afligia. Há muitos anos ele estava naquela rotina; todo ano tinha que especular o gosto das crianças por chocolate ao leite, branco, crocante, ou outro e, depois de fabricá-los, tinha que sair escondendo pelos quintais e casas de todo o mundo. Apesar de ser uma profissão valorizada, era um tanto quanto anônima, só era possível manter contato com seletíssimas pessoas; se algum paparazzi o flagrasse, não teria mais sossego e as crianças descobririam todos os esconderijos dos ovos.

No período da tarde, a Senhora Coelhinho da Páscoa chamou seu marido para assistir a um pouco de TV.

— Eu tenho mais o que fazer! Você acha que eu tenho cara de quem quer assistir à novela mexicana numa hora dessas? Vou começar a esconder os ovos amanhã, tenho que preparar minha bagagem! Por falar nisso, você já fez meu bolo de maçã?

— Calma, eu prometo que você não vai se arrepender de assistir à televisão um instante!

Contrariado e arisco, o Coelhinho da Páscoa cedeu à insistência da mulher.

A Secretaria de Segurança acaba de confirmar mais um ataque do PCC a um ônibus no centro de São Paulo, uma pessoa ficou gravemente ferida e foi levada para o hospital. É um absurdo a questão da segurança nessa cidade! Eu fico indignada! Mas agora no nosso programa, uma aula de artesanato com Marina Soap. Hoje a Marina vai nos ensinar a fazer aquele sabonete em forma de sol. Boa tarde Marina!

Boa tarde, é um prazer estar aqui novamente, Tátia.

Atenção coleguinha, pegue papel e caneta e anote os ingredientes da nossa dica artesanal de hoje.”

No decorrer da receita, o Coelhinho da Páscoa ficou atento a todos os detalhes. Enquanto isso, sua esposa anotava os ingredientes e o modo de fazer. Após meia hora, quando a receita já havia acabado, o telefone tocou e o Coelhinho atendeu:

— Pois não.

— Rou, rou, rou! Olá Coelhinho, adivinha quem está falando?

— A Fada dos Dentes?

— Não, sou eu, o Papai Noel!

— Ah, nem imaginava! Como vai?

— Quase tudo bem, você sabe, essa velhice dificulta um pouco as coisas, mas e você, como vai?

— Tentando resolver os problemas. Mas está tudo indo bem. No mês passado nasceram meus dois gêmeos! E a menina! E tem um que eu ainda não sei ao certo o que é, mas enfim, a família aumentou!

— Rou! Que maravilha!

— Mas me diga, por que ligou? – indagou o Coelhinho.

— Ah, a questão é complicada, tenho uma proposta para te fazer. Se você não quiser aceitar, eu entendo, não é algo fácil de aceitar, quando a gente se apega a alguma coisa é realmente difícil de largar, mas às vezes é preciso dar um novo rumo a nossas vidas e os caminhos são diversos uma vez que…

— Está bem! Qual é a proposta? – Falou o Coelhinho impaciente.

— Eu quero comprar sua fábrica de chocolates.

Um momento de silêncio pairou no ar, Papai Noel do outro lado da linha cerrou os dentes apreensivo.

— Coelhinho? Você ainda está aí? Eu vou entender se você não quiser vendê-la. Assim… os presentes que eu te dei quando você ainda era uma criança são meras lembranças, você não me deve nada por aquilo.

— Tudo bem eu vou te vender a fábrica. Mas primeiro o senhor terá que me indicar uma fábrica de sabonetes para eu comprar.

— Não sabia que você tomava tanto banho assim…

— Não é isso. Já que vou vender a fábrica de chocolates, tenho que substituir os ovos das crianças por alguma outra coisa e, bem, estava agora mesmo assistindo a um programa de televisão e passou essa receita, achei interessantíssimo.

Achar a fábrica para o Coelhinho comprar foi tarefa fácil para o velho Noel, que assim, comprou a fábrica do Coelhinho. O Coelhinho passou a produzir sabonetes de todos os tipos, em forma de sol, de lua, de flor, de ovo, de coelho e até de Papai Noel. As crianças não se acostumaram a ganhar sabonetes na Páscoa, algumas ficavam confusas e os comiam, principalmente aqueles com aroma de chocolate.

“Era um coelhinho de dentinhos tão branquinhos, bem pequeninho…”

— Desliga esse rádio! Eu quero ouvir a receita na televisão! Hoje vai passar uma receita especial de sabonete comestível!

— Calma querido!

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Papai Noel finalmente foi visitar o Mágico de Oz, esperto, aproveitou para tirar aquela gordurinha a mais da barriga. Seus problemas foram quase resolvidos. Agora o único presente que dava às crianças no Natal era chocolate. A princípio, as crianças ficaram aborrecidas com o presente, pois queriam mais, queriam carrinhos de controle remoto, celulares, videogames, computadores. Então, para acalmar os ânimos, ele teve que fazer uma promoção: a cada ano colocava, aleatoriamente, cinco cupons dentro dos chocolates; as crianças que os achassem, poderiam visitar por um dia a fantástica fábrica de chocolates do Papai Noel. Era uma festa.

Querido Papai Noel, essa carta seria na verdade para reivindicar a escada maior que eu te pedi e que o senhor não mandou. Mas, por outro lado, o senhor me mandou um maravilhoso chocolate com pedaços de nozes e, ainda por cima, eu achei o cupom da sorte e irei te visitar no dia combinado! Um dia desses eu parei para refletir: como chocolate é gostoso! Não consigo mais parar de comer! Tomei uma decisão drástica: derrubei meu pé de feijão, e construí um enorme pé de cacau no lugar. Agora virei um empreendedor do ramo chocolático. Comercializo com todos os meus amigos da escola. Só tenho a te agradecer. Obrigado pelo magnífico presente.

Atenciosamente, João.

PS: Os Três Porquinhos me ligaram na semana passada. Eles foram para a China, se juntar aos cachorros na Passeata Internacional pelos Cães e Porcos. Eles se mudarão em breve para suas casas próprias, e pediram que você deixasse os chocolates sempre na casa de tijolos, não entendi muito bem por quê, mas deve ser superstição boba. ”

Letras – UFABC

Bruno Wicher – Poemas

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No 4º Encontro tivemos a oportunidade de ler material do próprio grupo. Entre eles, os poemas de Bruno Wicher.

Aqui estão alguns deles. Para ler mais, basta acessar o Blog do Bruno: Nix, Noites Primordiais

DESERTO

Meus olhos secaram − cansaram de derramar lágrimas por sentimentos mortos, por pessoas vazias e distantes, por necessidades desnecessárias

Minha boca secou − cansou de tanto dizer a verdade inútil, que entra por um ouvido e sai pelo outro, de tanto gritar a uma platéia de surdos e tolos

Meu coração secou − cansou de não ser nutrido com amor ou outro sentimento bom, e, mesmo quando ainda era, esses agiam como veneno

Minha caneta secou − cansou das minhas palavras infantis, dos meus resmungos versados, das minhas lágrimas sobre o papel, que atrapalhavam seu trabalho, cansada desses poemas mórbidos, patéticos, falsos, toscos, feios

DE PROFUNDIS

Patético pequeno homem
com seus sonhos de grandeza,
pensando que pensa
quando está preso no sentir,
e nem nisso você é bom,
e nem sobre isso você consegue se expressar,
esforçando-se para ser sincero
quando em sua mente,
você mente, para si mesmo
Vai,
sê sincero contigo mesmo
aceita-te como insuficiente
aceita-te como ignorante
aceita-te

CONJUGANDO O NADA

Eu sou
Você é
Nós somos coisa nenhuma

Tu és
Ele é
Vocês são um pouco do Nada

Eles são
Vós sois
Pedaços do que não existe

Nós somos
Vós sereis
Porções de inexistência triste


Ana Carolina B. Silva

LETRAS – UFABC

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