Letras UFABC

28/05/2010

Engenheiros X Português

Filed under: Textos — Letras UFABC @ 16:46
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Estará mentindo quem estuda Engenharia e disser que nunca ouviu a famosa frase: “Não preciso saber português, estou fazendo Engenharia, não Letras!”.

Pois bem, esse é um assunto muito polêmico e que deveria ser debatido pela comunidade acadêmica, a fim de esclarecer pontos que ficam escondidos sob a máxima citada acima.

O português

O português é a língua natural da maioria de nós, estudantes da UFABC. Aspirantes a cientistas, engenheiros, matemáticos, químicos, físicos, biólogos, cientistas da computação, todos estudam para integrar o mercado profissional em um futuro próximo e, mais do que isso, tornarem-se cidadãos melhores. Muitos, porém, preocupam-se em demasia com a Ciência e ignoram um fato importante na vida de todo ser humano: a linguagem. Pouco se importam com uma comunicação de qualidade.

A comunicação

O que é comunicação?

co.mu.ni.ca.ção*  

Substantivo feminino.
1.Ato ou efeito de comunicar(-se).
2.Processo de emissão, transmissão e recepção de mensagens por meio de métodos e/ou sistemas convencionados.
3.A mensagem recebida por esses meios.
4.A capacidade de trocar ou discutir idéias, de dialogar, com vista ao bom entendimento entre pessoas. [Pl.: –ções.]

Pois bem, o tópico 4 ilustra a comunicação no contexto em que queremos abordá-la. Essa comunicação pode ocorrer de várias formas: mímica, falada, escrita, ouvida e de diversas outras. Cremos que no cotidiano, comunicar-se por mímicas, olhares, grunhidos não sejam formas convenientes e nem eficientes de estabelecer contatos. A comunicação atualmente dá-se principalmente de formas falada, escrita e ouvida.

Falando, escrevendo ou ouvindo podemos passar/receber mensagens, convencer, interpretar situações e problemas, vender, anunciar, expressar sentimentos e opiniões, etc. Veja como a comunicação é importante! Utilizamos para tal uma linguagem com a qual nos comunicamos melhor: o Português (embora alguns prefiram Java). Como então um engenheiro não precisa saber português? Oras, não é ele quem irá interpretar tantos problemas em sua dura vida profissional?

Qualquer pessoa deve se preocupar com o modo como fala e escreve. A linguagem é uma arma com a qual se pode combater situações que enfrentamos dia a dia. Primeiramente, esclarecemos, não estamos defendendo aqui a utilização de uma linguagem estritamente formal durante todo o tempo; o modo como se fala depende do contexto. É admissível que se utilizem gírias e tantos outros artifícios da linguagem coloquial quando se está numa roda de amigos, por exemplo. Mas eis que chega um aluno na frente de sua turma para apresentar um projeto e utiliza esse mesmo estilo de linguagem. Oras, não é um contexto em que isso é conveniente. Devemos saber como falar para poder estabelecer uma comunicação de qualidade, satisfazendo os propósitos iniciais do contato.

Ferramentas: leitura e escrita

Eis que permeando essa questão, temos a leitura e a escrita como ferramentas de desenvolvimento da linguagem. Sim, devemos ler e escrever mais, visando aprimorar nossas capacidades de expressão. Se ler não for um costume, deve-se procurar fazê-lo de forma prazerosa, absorvendo as utilidades práticas do português sem que isso se torne monótono.

Escrever é mais do que apenas rabiscar um pedaço de papel ou apertar botões de um teclado. Podem-se escrever histórias, poemas, músicas, textos. Escrever traz a possibilidade de executar a comunicação de forma integral. Para escrever é necessário adotar posicionamentos, formalizar idéias e organizá-las para então expressá-las no papel. É um tipo de comunicação elaborada que faz com que o indivíduo se expresse e desenvolva por inteiro sua capacidade de comunicar-se.

Não, não estamos dizendo aqui que para saber se comunicar é preciso que todos sejam Machados de Assis (mas seria lindo se isso ocorresse!!). Ler e escrever apenas deveriam ser hábitos de todos, quem sabe assim o entendimento entre os cérebros desse mundo não fosse melhor.

Contradição

A polêmica entra nessa história quando certos personagens também entram: os professores. Em um primeiro momento, eles deveriam ser perfeitos. Em um segundo momento, como diz o professor Maximiliano, eles só se sentaram naquelas cadeiras um pouco antes de nós. Quem também nunca ouviu os professores falarem expressões do tipo: “seje”, “pra mim fazer”, “menas”, etc?. Algumas vezes por descuido; oras, todos cometemos deslizes! Outras, por hábito, e é aí que está o problema.

Sinceramente, a primeira coisa que me vem à cabeça quando um professor diz algo dessa forma é: “Como ele conseguiu tornar-se doutor?”. A segunda é: “Eu ainda tenho uma chance de me tornar doutora!”.

Não apenas na universidade, mas principalmente no ensino básico, os professores são exemplos para os alunos, exemplos de pessoa inclusive. Além das disciplinas que ensinam, eles devem também cumprir o papel de educadores de pessoas, ajudando a formar profissionais esclarecidos e cidadãos de que o mundo precisa. Outro caso é o daquele professor que APENAS lê slides, mas esse é um assunto para um próximo post…

Essa questão dos professores foi apenas para deixar um aviso: Professores, ao mesmo tempo em que exigem que nos esforcemos ao máximo para tirar As nas disciplinas de vocês, lembrem-se que apesar de mais experientes, e doutores, precisam atentar para ‘detalhes’ como esse: o português.

Recados dados. Espero que frente a essa comunicação escrita, tenham podido compreender o que foi expresso aqui. Entendeu? O que você acha de tudo isso? Diga o que se passa nessa sua cabeça cheia de neurônios.

* Dicionário Versão Eletrônica: Miniaurélio

Ana Carolina B. Silva

Letras – UFABC

14 Comentários »

  1. Ah? Quem é o asno que diz que faz engenharia e assim, consequentemente não precisa dominar a língua portuguesa? Que isso! Eu não sou o Pasquale de saias, mas erros ortográficos são chocantes! Denuncia, não só a falta do domínio de sua lingua nata, mas desleixo entre outras coisas.
    Faço engenharia e realmente vejo um pouco do que foi mencionado em meu cotidiano, inclusive erros de alguns professores.

    Comentário por mariamijonamoderna — 29/05/2010 @ 10:33 | Responder

    • Olá! Bom saber de sua preocupação com a língua! Vejo que tem um blog também! Você é aluna em qual instituição?

      Ana

      Comentário por Letras - UFABC — 30/05/2010 @ 13:58 | Responder

  2. Já conversamos sobre isso e acho de extrema ignorância a pessoa que diz algo como “Não preciso saber português, estou fazendo Engenharia, não Letras!”. Seria ótimo se todos soubessem escrever e falar maravilhosamente bem, mas decentemente é o mínimo esperado.

    Comentário por Priscila — 29/05/2010 @ 13:51 | Responder

  3. Salve galera,

    Sou estudante de ciência da computação (pra falar a verdade, ainda não concluí o BC&T…) do noturno, e fiquei sabendo deste grupo através dos cartazes do “corredor da morte”, lá no campus… Me surpreendi quando soube que o encontro do dia sete de junho já é o sexto encontro. Estaremos lá.

    A UFABC não tem um curso sequer de português, ou estou enganado? A FEI, nos semestres introdutores, tem um curso de redação. O livro utilizado é o ótimo livreto Técnicas de Comunicação Escrita, do Izidoro Blikstein. O livro não é mais um livro de gramática ou ortografia, mas um livro interessante e divertido que convence o leitor da necessidade de dominar as técnicas necessárias para uma boa comunicação escrita.

    O asco ao estudo da língua inicia-se no ensino fundamental. Ao invés de permitirem às crianças e adolescentes de escolherem os livros que querem para ler e discutirem língua através dos romances e poemas, a (des)educação vigente insiste em ensinar conjugações, orações subordinadas e outras monstruosidades gramaticais.

    Tinha mais a escrever, mas continuamos depois. Nos vemos dia 07.

    Um abraço e parabéns pela iniciativa.

    Comentário por Silas Silva — 29/05/2010 @ 23:42 | Responder

    • Olá, Silas! Seja benvindo! Realmente, seria muito bom que tivesse pelo menos alguma disciplina na UFABC que abordasse temas importantes como esse!

      Ana

      Comentário por Letras - UFABC — 30/05/2010 @ 13:59 | Responder

  4. Cara Ana,

    Por favor, vá ao site http://www.ect.ufrn.br/en/estrutura_curricular e veja o que há lá, nos três primeiros períodos, que é diferente do que há aqui na UFABC. Creio que quando se pensou o BCT da UFABC se imaginou que os alunos daqui não precisariam estudar línguas, redação ou gramática, ou o fariam por conta própria.

    Um abraço!

    Comentário por Stephen Dedalus — 30/05/2010 @ 18:03 | Responder

    • Uau! Práticas de Leitura e Escrita I e II e Práticas de Leitura e Escrita em Inglês! Muito legal saber que isso existe num curso de Ciência e Tecnologia!

      Eles se enganaram muuuito em pensar que disciplinas como estas não são necessárias por aqui!

      Comentário por Letras - UFABC — 30/05/2010 @ 19:23 | Responder

  5. Realmente, fazer-se entender é o mínimo esperado, o complicado é esperar o mínimo de alguém que vai redigir um documento, uma prova, um manual de instruções, um artigo…

    Comentário por Evaristo — 02/06/2010 @ 01:04 | Responder

  6. Olá… Sou aluna da UFABC também. Com muita frequência assisto aulas em que o professor diz: “menas”, “seje”… Até dói… Também acho que deveria ter não apenas uma, mas algumas disciplinas de língua portuguesa e redação. Já fiz muitas matérias que se precisava de relatórios e, diversas vezes, fui obrigada a reescrever e sair pontuando textos que estavam totalmente sem coesão ou simplesmente com erros de ortografia…

    Poxa… Se não tem curso de redação, porque não tentar escrever certo? Porque não “ler” o que se está escrevendo? Será q é tão difícil reler o seu PRÓPRIO texto antes de passá-lo?

    Comentário por Adriane — 21/06/2010 @ 00:15 | Responder

  7. Falar bem o português, é necessário em qualquer situação…

    Comentário por Rita De Cassia Gomes — 03/02/2012 @ 23:39 | Responder

  8. Concordo em parte com alguns pontos escritos pelos colegas. Sou estudante de engenharia da UFABC e fico bestificado com alguns erros grosseiros de português que encontro no meu dia-a-dia. Porém, não acho que um curso de engenharia deva ter uma disciplina voltada para prática de redação, português instrumental (este é o título que alguns instituições usam) ou temas relacionados, pois não vejo justificativa para um universitário escrever ou falar mal seja qual for sua área de especialização.
    O conhecimento das características do nosso idioma, ao meu ver, é resultado da própria experiência de vida e dos hábitos, digamos, “literários” da pessoa. O maior exemplo de como isso se aplica é compararmos duas pessoas, uma que sempre teve o hábito de leitura e a outra não.
    E há ,sim, muitos alunos de engenharia que lêem e escrevem muito bem, muitas vezes até melhor que muitos da área de humanas.

    Cordialmente,

    Comentário por Thiago Lursh — 22/05/2012 @ 10:07 | Responder

  9. Oi!
    Sou estudante de Engenharia Elétrica, e comecei a preocupar-me com o português. Afinal, uma pessoa só demonstra ser culta com uma ótimo escrita.
    Comecei a estudar poucas coisas. Com certeza, progredirei.
    Abraço. 🙂

    Comentário por /italotoffolo — 24/02/2013 @ 13:28 | Responder

  10. […] Texto adaptado, disponível em: https://letrasufabc.wordpress.com/2010/05/28/engenheiros-x-portugues/ […]

    Pingback por ENGENHEIROS versus PORTUGUÊS — 11/11/2015 @ 13:17 | Responder

  11. ola sou estudante de engenharia civil, eu sou péssimo em português mas em matemática sou ótimo, comecei a me preocupa agora com o português porque foi muito erro de autografia.

    Comentário por Ronicleison da silva silveira — 15/02/2017 @ 19:58 | Responder


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